sexta-feira, 15 de abril de 2011

Viagem

Deve ser a tricentésima vez na ultima semana que abro esta janela e fico aqui a olhar para a página em branco, à espera de a ver encher-se das palavras que me povoam as ideias. Elas estão aqui a pedir para sair mas... das duas uma, ou não consigo alinhar frases lógicas com elas, ou não consigo decidir por qual começar.

Hoje decido não escolher, vou deixá-las sair pelo dedos, a ver que acontece.

Foi o meu aniversário, aquele dia magnifico e fundamental que dá o início a cada novo ano. Preparo-me sempre com a devida antecipação, até sinto borboletas no estômago. Como quando nos preparamos para desembrulhar um presente sem saber o que está dentro da caixa, expectantes e felizes logo desde o momento em que começamos a desatar a fita. Não há ansiedade e, se há expectativa, não há qualquer pressuposto.

É onde estou agora, desta vez junta-se uma sensação nova: há urgência em saber o que contém a caixa; que vai sair de lá, desta vez, que irá dar o mote a este novo ano?

Vou tirando a tampa devagar, aos poucos e com cuidado. Sinto a força da revelação, temo não a entender num relance, e vou tentando perceber pelo relevo do embrulho irregular, apalpando ás cegas a forma. A ver se adivinho o conteúdo sem o revelar por inteiro duma só vez, não vá ser demasiado o presente para mãos tão pequenas segurarem.

Sinto que é um caminho que adivinho longo e íngreme e foco-me no que sinto.

Compassiva, a memória traz uma sensação antiga, tão mais agradável quanto inesperada. Muitos com certeza que a conhecem: inicia-se uma caminhada que ao primeiro passo é interminável. Depois o pensamento divaga para longe dos pés, a atenção centra-se na paisagem. 

De repente, quando damos novamente por nós, reparamos que tanta estrada ficou já para trás e percorrida sem esforço. As pernas ficam mais leves, recupera-se o alento e galga-se outra etapa... 

Afinal, as distâncias não contam! Brilham os olhos - o prazer está no que se encontra no Caminho!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ser

"Ser" é uma palavrinha pequenininha de três letras, como "sim" ou "não". E, no entanto, tem lá dentro a dimensão de Tudo.

Ser é muito mais do que sentir, do que querer, e passa muito para além do ter. Ser é ficar em Si, lembrar-se que se É e que tudo está e existe ali mesmo. Ser é estar nos outros e com eles e nunca deixar de Ser. Ser é acreditar que se está, existe, pensa, sente, vive. Ser é Eu na fusão do Nós.

Ser é não se perder na dor, não ficar na emoção, não se perder nos outros à procura de quem se é. Ser é agir livre, sem pendências nem dependências, sem prisões nem freios criados no não Ser. Ser é Amor, total, livre, pleno e instintivo. Ser é dar-se em Amor na plenitude da partilha, aceitar e amar como se É.

Ser é seguir sempre em frente, sem olhar por cima do ombro, é pisar firme em cada passo, trilhar o caminho que se escolhe e aceitar que se É, apenas e só, porque Ser é Tudo.

domingo, 3 de abril de 2011

Amigo

Ter um Amigo é uma bênção enorme!

Não há coração pesado, dúvida ou falta de perspectiva que uma boa conversa com um Amigo, não consiga iluminar.

Para descascar raciocínios mais borbulhantes do que água "castelo" quando se agita a garrafa, nada como um amigo sábio, pensador sensato e estruturado. Mesmo quando se percebe que as camadas de emoções, pensamentos e palavras que se vão formulando são alvo de julgamento e crítica, ainda assim, é maravilhoso.

Quem duvida das próprias conclusões, pensar sozinho é um exercício difícil e pouco produtivo. Graças pelo Amigo, mesmo se julgar, mesmo se é pouco compassivo nos comentários que silencia de palavras. Mesmo quando permite que fique ainda dúvida, seja pela omissão que não se entende ou pela silenciosa ironia que se sente.

Mesmo assim, que bênção e fortuna! Bem hajas Amigo!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Despropósito

Tantas as vezes que me sento à frente dum monitor vazio à espera que flua de mim algo que percebo existe mas não sei o que é, apenas sei quanto pesa cá dentro.

Hoje é uma dessas vezes, nem devia estar aqui mas a dormir, a deixar descansar o corpo físico que em vários aspectos clama pelo seu direito ao repouso. Mas há cá dentro algo que quer sair, tenho de lhe abrir a porta.

Interessante como são os seres que mais amamos, os instrumentos que nos podem causar maior mágoa.

Desde que, conscientemente, trilho o caminho da evolução que agradeço cada frase, palavra ou gesto que me chega, seja de amigos ou não. Sejam palavras de encorajamento, de censura ou raiva, a todas acolho com amor e gratidão por entender tratarem-se de mensagens que, com certeza, preciso de ouvir, de novas aprendizagens que vêm aumentar a minha consciência e, como tal, engrandecer-me.

Ouço-as, recebo-as, penso nelas, deixo-me envolver pela energia que trazem e fico neste processo até entender a mensagem que encerram. Quando entendo, aprendo a lição e agradeço, guardo na memória consciente e liberto a energia que trouxeram.

Dito assim quase parece algo muito demorado, regra geral não é. Penso rápido, costumo dizer, qual "penso rápido" de tapar feridas ligeiras. Entendo à mesma velocidade, muitas vezes mais depressa do que o raciocínio demora a formular-se e, certamente, muito mais rápido do que demora a escrever.

Não são essas as palavras que magoam, sejam pronunciadas em consciência ou, por "acaso" da língua que as formula, trazem sempre a energia do Amor, por isso engrandecem-me e engrandecem quem as pronuncia.

As que magoam são outras, são as que se sentem desnecessárias, que repetem aspectos inúteis para quem se destinam e nada acrescentam ao bem maior tanto de quem as diz, como de quem as ouve.

Certamente, são pronunciadas por uma qualquer necessidade do emissor, mas se vêm vazias de Amor, se são ditas apenas para ferir ou libertar qualquer emoção doente melhor seria calá-las, digo eu...

Recebemos o que damos, fico a pensar que não devo ser isenta. Em outros momentos idos terei com certeza criado esta energia que atraiu, só agora, algo que já não faz sentido e que, por tanta inutilidade e despropósito, magoa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Equívocos

"Sem falar ninguém se entende!"...

E, afinal, cada vez percebo melhor que por falar menos nos entendem. Melhor calar, digo eu, mais ainda se falta a confiança para por a nú a alma que se iluminou. É ego, diriam, é vaidade afirmariam... Agora, sei que a essência da Verdade está muito para além de tudo isso, limitada somente pela reduzida compreensão da pequeníssima dimensão humana.

Perceber o que se sente, saber o que e como vai acontecer e entender que está tudo muito para além de egos, vaidades ou meros quereres humanos. Está escrito no céu, e "quando Deus quer e o homem não quer, há-de ser como Deus quiser".

De nada adianta inventar que se pode sempre mudar o curso das coisas, que a escolha é nossa, que em cada momento podemos criar uma realidade nova, escolher outro rumo, escolher outras pessoas. Que equívoco!

Por momentos persiste a ilusão de que se pode fazer acontecer, de que se pode decidir e optar, que equívoco! Se acontece, como acontece, é porque está em sintonia e serve ao propósito definido.

O corpo é apenas físico e tão pequeno, limitado e maltratado. Reger o curso da vida em função dele é um enorme desperdício de energia. Pobres humanos que se submetem aos desejos do que é efémero e num segundo se volatiliza. Sempre a querer ou a desejar alguma coisa ou alguém. Perde-se tanta energia a cobiçar: o que o outro é ou tem, alguém que por nos espevitar a libido se pensa que nos vai preencher vazios, massajar o ego e alimentar vaidades. Faz-se depender de outros a nossa alegria e auto-estima, espreita-se em cada olhar a aprovação e reconhecimento, que equívoco!

Tudo está apenas na Alma que se ilumina quando se une à Fonte. Somos todos Um, unidos para formar uma só Consciência, Universal e Colectiva, a Verdade da existência de Deus.

Enquanto andarmos a desperdiçar a nossa energia, a colocá-la nos outros para sermos vistos e amados porque sozinhos não sabemos quem somos nem sabemos amar-nos, estamos a manipular o fluir da Vida. A impedir que cada um seja o Ser, inteiro e intacto, a Parte essencial para constituir o Todo.

Servir o propósito colectivo da Ascensão é levar a todos a consciência da divindade que cada um traz em si, nenhum melhor do que o outro, apenas uns mais avançados em consciência. Elevar a nossa vibração é o nosso propósito neste corpo, pois a missão que nos foi dada é exigente, porém uma distinção engrandecedora.

terça-feira, 22 de março de 2011

Inutilidades

Há dias assim, passam sem deixar marca, inúteis no correr do relógio. Dias em que apetecia fazer e nada sai feito, em que as palavras se falam vazias do significado que se sente. Chamo-lhes dias de pausa no tempo.

É para esses dias, em que as palavras sobram na cabeça e faltam na língua, que criei este blog. Para ir deixando ficar fora o que já não cabe dentro, faz mossa, incomoda e ocupa o espaço que se quer vazio para ser útil.

É um blog de inutilidades, partilhadas ou apenas a frio, de "mim para comim". Se alguém as ler e a alguém fizer sentido, tanto melhor. Caso contrário, serve com certeza o propósito para que foi criado: reciclar inutilidades.