Deve ser a tricentésima vez na ultima semana que abro esta janela e fico aqui a olhar para a página em branco, à espera de a ver encher-se das palavras que me povoam as ideias. Elas estão aqui a pedir para sair mas... das duas uma, ou não consigo alinhar frases lógicas com elas, ou não consigo decidir por qual começar.
Hoje decido não escolher, vou deixá-las sair pelo dedos, a ver que acontece.
Foi o meu aniversário, aquele dia magnifico e fundamental que dá o início a cada novo ano. Preparo-me sempre com a devida antecipação, até sinto borboletas no estômago. Como quando nos preparamos para desembrulhar um presente sem saber o que está dentro da caixa, expectantes e felizes logo desde o momento em que começamos a desatar a fita. Não há ansiedade e, se há expectativa, não há qualquer pressuposto.
É onde estou agora, desta vez junta-se uma sensação nova: há urgência em saber o que contém a caixa; que vai sair de lá, desta vez, que irá dar o mote a este novo ano?
Vou tirando a tampa devagar, aos poucos e com cuidado. Sinto a força da revelação, temo não a entender num relance, e vou tentando perceber pelo relevo do embrulho irregular, apalpando ás cegas a forma. A ver se adivinho o conteúdo sem o revelar por inteiro duma só vez, não vá ser demasiado o presente para mãos tão pequenas segurarem.
Sinto que é um caminho que adivinho longo e íngreme e foco-me no que sinto.
Compassiva, a memória traz uma sensação antiga, tão mais agradável quanto inesperada. Muitos com certeza que a conhecem: inicia-se uma caminhada que ao primeiro passo é interminável. Depois o pensamento divaga para longe dos pés, a atenção centra-se na paisagem.
De repente, quando damos novamente por nós, reparamos que tanta estrada ficou já para trás e percorrida sem esforço. As pernas ficam mais leves, recupera-se o alento e galga-se outra etapa...
Afinal, as distâncias não contam! Brilham os olhos - o prazer está no que se encontra no Caminho!
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